terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Filmes das férias, até agora

De férias até março, sobra um razoável tempo para ver filmes. Dando uma de wannabe, resolvi dar uns pitacos sobre as últimas películas assistidas. Alguns destes comentários já pipocaram no meu twitter:

1) Jogando com prazer (2009): vale pelas técnicas do Aston Kutcher para conquistar mulheres. 7,0.

2) Dias incríveis (2003): comédia fraca, esperava muito mais do diretor de "Se beber, não case". 3,0.

3) 17 outra vez (2009): fantasia adolescente com fim previsível, mas não deixa de ser interessante. 7,0.

4) Dupla explosiva (2010): clássico filme de ação. De diferente, John Travolta dando uma de Vin Diesel. 7,5.

5) R.E.D. (2010): Bruce Willis e Morgan Freeman mereciam um roteiro melhor: 5,5.

6) Comer, Rezar, Amar (2010): bom, mas a narrativa é muito lenta. Deu sono. 6,5.

7) Salt (2010): exagerado como quase todo filme de ação, o roteiro poderia ser melhor trabalhado. 7,0.

8) A Rede Social (2010): nada além de um (bom) documentário que conta a história do Facebook. 7.

9) Rocknrolla (2008): divertido, embora um pouco louco demais. 7,5

10) Trainspotting (2006): excelente roteiro, bem dirigido. Forte, na medida. 9.

11) Machete (2010): apesar do excesso de sangue, como todo Rodriguez, vale pela boa estética. 8.

12) A vida é bela (1998): e o Central do Brasil ainda queria ganhar o Oscar... 9.

13) Minhas mães e meu pai (2010): boa história, mas exagerada nos acontecimentos e nos conflitos familiares. 6,5.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Chutando o balde

Abandonei o blog nos últimos seis meses. Mas tive um motivo: resolvi chutar o balde.

Não que a minha vida interesse a mais do que cinco ou seis pessoas, incluindo aí os meus pais, mas acho que vale a pena dissertar sobre isso.

Trabalhava há seis anos, ininterruptamente. Emendei um estágio com outro emprego de carteira assinada, algumas vezes tive dois trampos e, quando uma empresa fechou as portas, em menos de uma semana estava de ofício novo. Ao fim, consegui aliar o que sempre gostei (vídeo) com a editoria com a qual sempre me identifiquei mais (internacional) e era “frila fixo” de uma grande agência mundial.

Mas não aguentava mais. Via meus colegas jornalistas, os mais velhos principalmente, estressados, viciados em café (eu também era, até ter úlceras), eternamente cansados. Enquanto os meus amigos de fora da profissão tinham fins de semana e feriados, eu mantinha aquela rotina de não ter rotina, de dar plantões, de receber telefonemas de trabalho em meio a confraternizações, de acordar as 4h pra trabalhar ou de trabalhar até as 2h, de almoçar correndo (isso quando dava pra almoçar) e não ter tempo pra coisas simples, como fazer academia e voltar pra aula de música.

Eu cansei. Por mais que gostasse da minha profissão e do seu falso glamour (sim, porque isso não existe há tempo, se é que existiu), decidi que estava na hora de voltar a ter um tempo pra mim, para fazer coisas simples como caminhar no fim de tarde ou conversar com os velhinhos embaixo do bloco, viajar tranquilamente com os amigos, desligar o celular para dormir, enfim, para ter uma vida outra vez.

Não vou negar que estes seis anos de profissão foram bons. Aprendi muito, mas muito mesmo. Fiz pautas de todo tipo: local, nacional, esportiva, internacional; cobri eleições, manifestações, posses, crises políticas; entrevistei moradores da periferia de Brasília, índios, ídolos do futebol e o Presidente da República; viajei para metrópoles como Rio e São Paulo e para lugares onde só se chega de barco (Benjamin Constant-AM). Se hoje tenho um carro na garagem e pequenos investimentos, é graças ao suor destes anos todos de muita ralação.

O lance é que não consegui fazer com que o jornalismo falasse mais alto do que a vida pessoal. Dizem que há um bichinho que pica os jornalistas e os deixa doidos pela profissão, a ponto de aguentar os horários, a anti-vida social e os baixos salários. Se existe, ele não me pegou direito...

Eu passei cinco dos últimos seis meses estudando duro. O resultado está na aprovação para o mestrado, um dos mais concorridos do Brasil, e algo que sempre quis fazer. Se não tivesse largado o meu emprego, não teria condições de estudar como gostaria (e provavelmente não teria sido aprovado). Regressando à vida acadêmica, vou ter tempo para saber se vale a pena ou não voltar à velha rotina, ou se devo começar outra profissão. Nunca é tarde para recomeçar, ainda mais aos 26.

PS.: é claro que não aguentei ficar parado nestes seis meses. De lá pra cá, cobri os dois turnos da eleição e vou trabalhar na posse da Dilma. Só não sei se não resisti aos convites por questões financeiras ou se é culpa daquele bichinho que eu não sei se existe...

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Copa do Mundo

Os jogos da copa do mundo tem tomado todo o meu tempo útil. Assim que o mundial der um tempo, ou seja, após os jogos das oitavas, prometo trazer novos textos.

Temas não faltam: a própria copa, eleições na Colômbia e no Brasil, dois anos de lei seca, ficha limpa ampliada...

Até breve.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

A condenação ao ataque israelense

Ando meio afastado deste espaço.

A repercussão em Brasília do condenável ataque de Israel à flotilha humanitária perto de Gaza tomou o meu tempo nos últimos dias.

Quanto à ofensiva israelense, creio que tudo já foi dito por aí. A própria reação internacional fala por si, com reação negativa majoritária entre as principais nações mundiais.

E, ao meu ver, este tipo de ação movida pela Defesa de Israel só faz levantar o ódio contra os israelenses e afastar a possibilidade de, um dia, eles conviverem em paz com seus vizinhos.

Esta recente questão do Oriente Médio é bem complexa e merece um post a parte.

Vale ressaltar, também, a pronta reação das autoridades brasileiras, que chamaram o embaixador de Israel para explicações e condenaram publicamente a ação.

Ninguém ontem, no Senado, teve coragem de questionar as declarações do ministro Celso Amorim de reprovação ao ataque. O chanceler foi ao Congresso convidado a explicar aos parlamentares a recente participação turco-brasileira no Irã –no que, como lembrou a Christina Lemos, até a oposição elogiou a atuação do Brasil.

Por falar em Congresso, alguém viu o ilustríssimo deputado Marcelo Itagiba por aí? Ele mesmo, que no fim do ano passado espalhou faixas repudiando a visita oficial de Mahmoud Ahmadinejad, sumiu depois do acordo nuclear do Irã e do ataque de Israel à frota de assistência humanitária.

Espero que ele tenha aprendido algo com a diplomacia brasileira. Se não, pode pedir ajuda aos colegas do Senado.

PS.: Aproveitarei este feriado para viajar e descansar, afinal, vêm por aí a Copa do Mundo e as eleições presidenciais, que vão exigir muito trabalho e demandar muito tempo.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Serra e a retórica anti-sulamericana

O pré-candidato do PSDB à presidência, José Serra, disse na última quarta-feira que o governo da Bolívia é cúmplice do tráfico de drogas na América do Sul. E ainda ironizou, ao falar que trata-se de um governo “amigo”.

Esta declaração se soma a outra, de cerca de um mês, na qual Serra questionou a funcionalidade do Mercosul --e acabou corrigindo ao dizer que prefere trabalhar pela flexibilização do bloco.

As falas de Serra foram comemoradas pela campanha da Dilma Rousseff, que aproveitou os episódios para gritar, mais uma vez, que o tucano é contra os vizinhos, a integração com a América do Sul e, por consequência, se opõe a um dos principais eixos da política externa de Lula.

No entanto, as declarações não passam de retórica eleitoral. Se eleito, o ex-governador de São Paulo não vai acabar com o Mercosul, com a Unasul, com a integração sul-sul e todos os demais projetos. Vale comentar aqui o porquê.

A política de integração sul-americana não foi proposta pelo governo Lula. Ou seja, não é algo do “governo do PT”. Ela vem desde a década de 1980, quando houve a redemocratização dos países do Cone Sul. Em 1985, os presidente do Brasil, José Sarney, e da Argentina, Raúl Alfonsín, criaram um mecanismo de integração bilateral que posteriormente, com o ingresso do Uruguai e do Paraguai, tornaria-se o Mercosul.

Esta integração que conhecemos hoje, com um Mercosul forte e a Unasul consolidada, foi construída ao longo dos últimos 25 anos. Alem de Sarney, os governos de Itamar Franco, Fernando Henrique (segundo mandato) e Lula foram fundamentais para que se atingisse o grau atual.

(Vale aqui um teste. Quantos presidentes da América do Sul você conhece? Muitos, poucos, alguns? Com certeza é mais do que você conhecia há dez anos.)

A constituição da Unasul é um processo sem volta. Dependendo da vontade e dos interesses dos presidentes sul-americanos, ela pode ter um papel mais ou menos importante no contexto regional. Mas, daí a ser extinta, para mim é impossível.

Mesmo presidentes conservadores, como Álvaro Uribe e Alan García, são favoráveis à integração regional. Todos os presidentes estão cientes de que, por mais que exista divergências políticas ou ideológicas, é importante a manutenção de um instrumento de diálogo, consulta e integração física e econômica.

Há alguns pontos de discórdia, claro. Uribe, por exemplo, relutou em aceitar a criação do Conselho Sul-americano de Defesa. Mas terminou concordando, ao saber que um possível isolamento regional teria efeitos piores. E qual bloco não possui atritos? Basta olhar o maior bloco mundial, a União Europeia, e suas desavenças internas, para ter a resposta.

Eu, pessoalmente, não acredito que Serra tenha intenção real de flexibilizar o Mercosul, de partir para o confronto com a Bolívia assim como os EUA fizeram, em relação ao tráfico de drogas, ou de romper com a Venezuela. O candidato sabe que interromper a integração regional não é o caminho.

Serra tem formação de esquerda, e assim era ideologicamente até a eleição de Fernando Henrique. Estudou na CEPAL, no Chile, que desde 1948 prega a integração sul-americana. Como ministro do planejamento, participou da elaboração do Plano Plurianual de 2000-2003, quando a aproximação regional voltou a ser prioridade do governo.

Mas não entendo o porquê de suas declarações. O Mercosul não é um fardo para as relações comerciais brasileiras, visto o crescente comércio com todos os blocos econômicos mundiais. Se a Bolívia é responsável por 80 ou 90% da cocaína contrabandeada ao país, não é por culpa de seus dirigentes. Evo Morales defende os cocaleros, ou seja, quem produz a coca para fins religiosos, e não os traficantes.

Eu prefiro acreditar que as afirmações do pré-candidato tucano sirvam apenas para alentar a elite de direita, a turma do DEM, os eleitores que se opõem a Dilma e a Marina. Os mesmos que defendem abrir a alfândega para produtos dos EUA, que se mordem de raiva até hoje pela nacionalização da Petrobras promovida por Evo Morales, que bufam contra o ingresso da Venezuela no Mercosul, apesar das enormes vantagens econômicas ao Brasil, e que se indispõem ao ver tantos sul-americanos trabalhando nas nossas metrópoles.

Ou seja, Serra partiu para a pura retórica de ano eleitoral. E que poderá gerar pequenos incêndios, caso seja eleito.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Os programas de humor e o jornalismo em Brasília

Nesta quarta-feira, enquanto o presidente Lula e os jogadores que vão à Copa do Mundo se dirigiam ao interior do Palácio da Alvorada, um humorista de um programa da TV Record ultrapassou a área delimitada para a imprensa e, fantasiado, tentou dar um abraço no Dunga. Foi impedido pela segurança e preso pela Polícia Federal.

Testemunhei a aflição do produtor do programa, que estava bem ao meu lado. Chegou a gritar “agora não!”, mas a merda já estava feita. Não sei se eu que sou ignorante, por sequer saber o nome do programa (sei apenas que é com o Mion), ou burro, pois não vi graça nenhuma na atitude.

Isto que aconteceu hoje é apenas mais uma atividade naquilo que está virando rotina em Brasília: a invasão de programas de humor em espaços que deveriam ser ocupados apenas por jornalistas.

O CQC é o que mais dá as caras por aqui. Toda semana eles batem ponto pelo menos no Congresso, onde ficam constrangendo os políticos com perguntas que nem os próprios “repórteres” saberiam responder sem uma produção por trás.

Tudo bem que os humoristas do CQC são talentosíssimos, alguns são jornalistas diplomados com bom passado profissional. Mas daí a dizer que eles fazem jornalismo, como o apresentador do programa insiste, é um erro.

Os programas estão misturando as coisas. Ao fazer campanha e insistir que o Congresso liberasse o credenciamento a eles, como o CQC fez em 2008, extinguiu-se a divisão entre o jornalismo e o humor. Hoje jornalistas e humoristas estão juntos em muitas pautas, como não deveria. O humor atrapalha quem está trabalhando a sério. A simples presença deles afugenta entrevistados, atrapalha entrevistas e impede a gravação das melhores imagens.

A equipe do incidente de hoje entrou no Alvorada com credenciais de repórter cinematográfico e auxiliar da TV Record. Se passaram por profissionais de imprensa para ter acesso a um lugar onde centenas de populares não conseguiram. Vale tudo para ser engraçadinho? Onde está a ética?

Aliás, a própria ética é uma das diferenças entre o jornalismo de verdade e o que os programas de humor dizem que fazem. Quando o CQC voltou ao ar, este ano, fizeram um VT divertidíssimo sobre uma TV de LCD doada a uma escola e que estava na casa de uma professora, ou diretora, sei lá, e flagrada por um GPS imbutido no aparelho. Se fosse jornalismo, seria uma boa matéria. Mas, ao fazer humor, pressionaram o prefeito da cidade (que não é flor que se cheire, frise-se). Faltou o princípio da isonomia, de ouvir os dois lados de forma igual e de dar chance para a defesa.

Em suma: os humoristas não deveriam ter o mesmo acesso que nós, jornalistas, temos. Sequer passar a ideia de que fazem jornalismo, porque não é. Se querem fazer vídeos engraçadinhos, que abordem autoridades fora do local de trabalho deles. Ou então que voltem a fazer piadinhas com artistas em porta de festa no eixo Rio-São Paulo.

Não estou defendendo a blindagem das autoridades. Mas integrantes de programas de humor não podem ter mesmo espaço do que nós, jornalistas, temos. Atrapalha e desmoraliza o nosso trabalho.

Outro problema é o espaço que o humor possui. O dia 7 de abril é considerado o dia do jornalista e, ao pesquisar o assunto no twitter, vi que nove em cada dez mensagens era de parabéns a algum “repórter” do CQC.

Estes programas possuem um público cativo e ninguém pode ficar ruim com eles. Por isso o credenciamento a eles é liberado com tanta facilidade. Se alguém impede o acesso, eles dizem e insistem que é censura.

Políticos, então, não podem nem pensar em contrariá-los. Daí surgem aberrações, como o Serra dar entrevista constrangedora ao CQC ou a Dilma prometer dançar o “rebolation”, se eleita, à Sabrina do Pânico.

Não sei se é um alento, mas o humor em Brasília está perdendo a força. Semana passada, durante a marcha contra a homofobia, uma equipe do Pânico foi expulsa por estar “fazendo gozação com coisa séria”, como definiu um organizador. Equipes do CQC, que eram vistas com mais frequência no Itamaraty, quase não fazem mais pautas sobre visitas de chefes de Estado. A última que vi em Brasília foi um humorista que se fantasiou de Che Guevara para o presidente conservador do Chile. Ninguém riu.

Se esta fase do humor em Brasília acabar, voltaremos a ser apenas uma cidade sem graça, como fomos durante anos e anos. Eu prefiro assim. Rir de Brasília é rir dos políticos, das autoridades que nos visitam, dos jornalistas, de tudo para o qual a capital foi sonhada e planejada.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

O hippie britânico da Asa Norte

Ontem, fim de tarde, enquanto destravo o carro no estacionamento do meu bloco, me aborda um sujeito estranho. Cabelo louro esbranquiçado, barba por fazer, mal vestido ao estilo hippie aos cinquenta anos, me pergunta se falo inglês.

À resposta afirmativa, pediu, num inglês com forte acento britânico, uma ajuda para comprar algo para jantar.

Como bom jornalista, quis saber mais sobre o malucão. Ele disse que era europeu, mas negou-se a dizer de qual país, e que estava pregando a contra-revolução no mundo quando foi roubado na Asa Norte. Disse ainda que os larápios levaram tudo que tinha e que só restou a roupa do corpo e o saco de dormir.

Perguntei se havia procurado a Embaixada, no que respondeu que dorme na porta todos os dias esperando alguma ajuda --mais uma vez, não quis falar qual Embaixada procurou, dizendo apenas que ficava na “South Wing”. Reclamou do frio da noite brasiliense e das águas do Lago Paranoá, e que tem dificuldades em se comunicar.

Ao ir embora, agradeceu com toda aquela fleuma britânica, “thank you for your kind donation”, e saiu vagando pela comercial da quadra, com um balde na mão e o saco de dormir preso às costas.

Caras malucos como esse existem por todos os lados. Nas grandes cidades do Brasil, como Rio e São Paulo, existem casos destes aos montes –assim como em centros mais, digamos, hippies, como Pirenópolis, Arembepe ou Alto Paraíso.

Mas encontrar, na imensidão vazia de Brasília, um andarilho destes, que não fala uma palavra em português, me chamou a atenção. O que ele estaria fazendo aqui?

Se existe um bom lugar para se pregar uma contra-revolução, com certeza não é embaixo das árvores e dos viadutos da Capital, por onde o trânsito de pessoas é menor do que o de uma praça de igreja matriz de qualquer cidade do interior.

domingo, 23 de maio de 2010

O Ficha Limpa começa a desandar

Primeiro, o presidente do TSE diz que o Ficha Limpa só deve valer para condenações futuras. Depois, a polêmica com o senador Francisco Dornelles por causa do tempo verbal (trocou “tenham sido” por “os que forem” no texto aprovado). O Ficha Limpa começa a desandar.

Não demorou, era uma consequência esperada. Como disse no post anterior, o Ficha Limpa foi votado às pressas, por mera pressão da opinião pública e sem o devido debate. A aprovação por unanimidade não significa que todos os senadores são favoráveis ao tema. E, claro, a classe política vai buscar brechas para enfraquecê-lo.

Por isso, volto a bater na mesma tecla: não é o Ficha Limpa que vai acabar com a corrupção no Brasil. A culpa deste mal não é dos políticos, nem dos eleitores: é o sistema que está errado. Enquanto houver o jeitinho brasileiro, a fisiologia política e o atual modelo de troca de favores, haverá corrupção. Não tem jeito: ou você entra no sistema, ou ele te engole.

Em vez de soluções demagógicas como o Ficha Limpa, que para mim não resolverá nada (pelo contrário, pode se tornar um perigoso instrumento de perseguição política), precisamos de medidas mais pragmáticas. Como já disse, um bom começo seria a aprovação do projeto que dá poder de policia aos fiscais da Receita Federal.

Se aprovado, o combate à sonegação seria muito mais rápido e eficiente. Com menos desvios de recursos, a arrecadação aumentaria e a carga tributária se reduziria. Não seria o fim da corrupção, mas é um começo.

Nos Estados Unidos, sonegação fiscal é um crime inafiançável por lesar a pátria. Helio Castroneves *, tri-campeão das 500 milhas de Indianápolis, quase foi preso depois de se enrolar com o fisco americano.

Por que não é assim no Brasil também? Porque a carga tributária é alta? Ora, se todos cumprissem legalmente suas obrigações com a receita, não pagaríamos tantos impostos. As entidades de classe deveriam acabar com impostômetros e investir em “sonegômetros”, para calcular as perdas que os cidadãos brasileiros de classe média têm todos os anos pagando seus impostos em dia.

Falta vontade política para mudar isso. Porque a regra é clara: ou você entra no sistema, ou ele te engole. E hoje, nele estão pessoas que não querem mudar este quadro.

* Castroneves garantiu neste sábado sua quarta pole position em Indianápolis. Ano passado, venceu pela terceira vez a mais tradicional prova do automobilismo dos Estados Unidos, pouco depois de ser inocentado pela justiça. Como se diz nestes casos, “deu a volta por cima”. É a prova de que quem não deve, não teme.

sábado, 22 de maio de 2010

Ficha Limpa: o porquê da minha rejeição

Esta semana o Senado aprovou o projeto de iniciativa popular conhecido como Ficha Limpa. Com mais de 1,6 milhão de assinaturas no papel e 2 milhões na internet, o texto vai à sanção presidencial nos próximos dias e pode passar a valer ainda nas eleições deste ano, dependendo da interpretação do Tribunal Superior Eleitoral.

Creio que todos na blogosfera saibam de cor e salteado o que é o Ficha Limpa: que foi uma iniciativa dos movimentos de combate à corrupção, que quem for condenado por um colegiado não pode se candidatar e etc.

Bom, os senadores aprovaram por unanimidade, em tempo recorde e discussão mínima, o Ficha Limpa (76 a 0). Claro, quem teria coragem de se opor ao “projeto que vai varrer a corrupção” numa votação aberta, ainda mais em ano eleitoral?

A repercussão, melhor impossível. O twitter bombou de comentários celebrando a aprovação do projeto. Foi a manchete da Folha de S. Paulo no dia seguinte. Os telejornais da TV Globo deram destaque à votação desde o Globo Notícia do dia da votação, passando pelo DFTV (!), Jornal Nacional e o Bom Dia Brasil do dia seguinte, quando o Alexandre comemorou a aprovação mesmo com as alterações do projeto original. Enfim, ficou a impressão de que a opinião pública gostou do projeto.

Acho que sou um dos poucos que não gostaram do Ficha Limpa.

Não se trata de uma posição ideológica ou pirracenta. Todos têm opiniões. Não digo que fui massacrado no twitter quando disse que sou contra o Ficha Limpa, porque tenho pouco mais de cem seguidores. Mas muitos dos meus amigos não entendem a minha posição. Disse-lhes que o buraco é mais embaixo, que não dava para explicar em 140 caracteres.

O meu ponto de discórdia com o Ficha Limpa está no próprio conceito do projeto: quem for condenado está impedido de se candidatar.

O texto original previa que quem tivesse qualquer condenação estaria impedido de se candidatar. OK. Temos vários tipos no meio político: parlamentares que se elegem comprando votos, que abusam do poder econômico dos seus cargos, que enviam dinheiro ilegalmente ao exterior, que não conseguem justificar seus gastos e caem na Lei de Responsabilidade Fiscal. Isso sem contar crimes piores, como torturas e homicídios (quem se lembra do Hildebrando Pascoal e do Carlos Xavier?).

Mas quem garante que toda condenação, ainda mais vinda de apenas um magistrado, é correta? E o uso político que isso poderia gerar? Um candidato com potencial de vencer uma eleição poderia, como já acontece em vários lugares, virar alvo de perseguição do Ministério Público ou de um juiz sem motivos justificáveis. E o pior: arcar com uma condenação em primeira instância, que já seria suficiente para se tornar inelegível, às vésperas da votação.

Quem conhece a Justiça brasileira, principalmente longe dos grandes centros, sabe do que estou falando. A promiscuidade entre o judiciário, entidades de classe e grupos políticos existe desde o tempo dos coronéis do poder.

Por várias vezes critiquei a Câmara dos Deputados por tomar decisões baseadas apenas no clamor da opinião pública ou pior, sem a devida discussão. Um bom exemplo é o projeto da Lei Seca, que foi aprovado num daqueles “mutirões” de véspera de recesso, em junho de 2008, num pacotão onde os parlamentares votaram embasados apenas na recomendação de seus lideres.

Mas, desta vez, a Câmara acertou. Ao alterar o projeto, colocando que a condenação para perda de elegibilidade deve se dar por um colegiado, e não por apenas um magistrado, diminuiu-se o poder do uso político do Ficha Limpa para a cassação de candidaturas. Diminuiu, não exterminou.

Quem garante que mesmos condenações de colegiados são sempre justas? Não precisamos pensar muito para lembrar de erros grosseiros. Olha aí o primeiro julgamento da Dorothy, que absolveu seus assassinos.

Não estou defendendo bandidos ou usurpadores de dinheiro público. Mas será que todo crime é do mal? A justiça nunca falha? Onde está o princípio da defesa? A corrupção é terrível, mas ela justifica a limitação do direito de qualquer cidadão brasileiro exercer a sua condição de ser candidato?

Antério Mânica foi eleito e reeleito prefeito de Unaí, mesmo com a pressão da “opinião pública” (leia-se imprensa) contra a sua candidatura. “Ah, é um assassino, mandou matar os fiscais do Ministério do Trabalho”. Suas vitórias foram fáceis e Antério é um líder da sua cidade. À época da eleição, ficou sub-entendido que a população de Unaí não sabia votar. E nada foi provado contra ele, até agora. O voto absolveu o candidato.

O Ficha Limpa só foi aprovado por pressão da opinião pública. Pressão dos editores dos jornais, que todos os dias inflamam as páginas dos pasquins com notícias desabonadoras da classe política –não que eles não mereçam, mas a reação é exagerada. De cinco anos para cá, desde a crise do “mensalão”, o esporte preferido da imprensa é malhar o Congresso. A prova está aí, com programas de humor batendo ponto no Salão Verde toda semana.


Corrupção, sempre houve. E, no meu lamentável entender, sempre haverá, mesmo que em menor escala. Enquanto persistir o jeitinho brasileiro e o atual modelo político, assim será. Mas, porque só agora esta reação? Só agora o brasileiro disse “cansei”?

Algo precisa ser feito, com certeza. O Ficha Limpa, no fundo, tem um bom propósito. Mas o texto é demasiado radical, mesmo na versão abrandada pela Câmara. Que tal diminuir a corrupção aumentando a fiscalização tributária?

Por que a OAB se apressa em pedir urgência da aprovação do Ficha Limpa e condena veementemente o projeto que dá poder de investigador aos fiscais da receita?

Quem não deve, não teme.

Se a sonegação fosse menor, a carga tributária seria menor, o desvio de recursos públicos menor. Logo, a corrupção também se reduziria. Mas a OAB fez de tudo para enterrar esta iniciativa, para mim muito melhor do que o Ficha Limpa. A simples ideia deste projeto arrepiou os cabelos da classe empresarial do país.

Enfim, voltando ao tema do post. Hoje, vivemos num país democrático. Mas, e se amanhã voltar o estado de exceção? E se ministros e desembargadores de tribunais forem cassados, como aconteceu em 1968 com o AI-5? O Ficha Limpa poderá ser uma justificativa legal para impedir que nomes de oposição cheguem ao poder.

A democracia no Brasil está bem consolidada, e assim deve permanecer por muitos anos. Mas, e se este Ficha Limpa existisse há 30 anos? Para ficar num exemplo: Lula, preso durante uma das greves do ABC, enfrentaria sérios problemas para escapar de uma condenação que impedisse a sua candidatura a governador de São Paulo em 1982.

Por fim, uma pergunta. E se o Ficha Limpa fosse mundial? Caso o padrão brasileiro de formador de opinião fosse exportado há uns 40 anos, Nelson Mandela e Xanana Gusmão nunca teriam a oportunidade de liderar a redemocratização de seus países.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Recomeçar de novo, mais uma vez.

E hoje eu recomeço. Na verdade, recomeço de novo, mais uma vez.

Sim, porque é a terceira vez que começo um blog. A primeira experiência, em 2002, não durou um mês. Era aquela febre, "oh, blog, novidade, diário virtual, todo mundo tá fazendo", e logo desencanei.

A segunda, em meados do ano seguinte, foi um pouco mais longeva. Mas sem conteúdo e, logo depois, sem tempo, ficou difícil blogar --não sabia se falava das minhas férias em Araguari ou das entrevistas para estágio. Logo comecei a trabalhar (muito) e o blog ficou encostado, até o Blogger deletá-lo por inatividade.

Agora recomeço de novo, mais uma vez. Com o twitter, a paixão por bloggar voltou. Neste espaço, pretendo reproduzir temas simples como futebol e automobilismo, reflexões do cotidiano à "Seinfeld", ou assuntos mais complexos do jornalismo ou da política que não cabem nos 140 caracteres do passarinho azul. Enfim, isto será uma extensão das opiniões que venho publicando por lá.

E vamos nessa!